quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A Espera por um Doador


        Início de 2011 e a espera por um doador começava. Depois de todas as chances mais próximas que tínhamos não terem dado certo, esperávamos que um anjo aparecesse e fosse compatível comigo.
          Em algum lugar, no fundo do meu coração, eu tinha certeza que iria aparecer. Não tinha mais parado de acreditar que só iria ficar curada se aparecesse um doador. Sabia que Deus, em sua infinita misericórdia, já tinha escrito minha história. Bastava eu crer no que Ele tinha reservado pra mim.
          Nesse tempo de espera, comecei a transfundir frequentemente, tomar doses mais altas de Prednisona, enfim... Todo medicamento necessário para que as plaquetas não baixassem tanto. Geralmente, só transfundia se as plaquetas estivessem abaixo de 10 mil. Tentavam com que eu transfundisse o mínino que eu conseguisse, para que ao fazer o transplante, desse tudo certo, apesar de minha lista de transfusões ter ultrapassado de 300. Comecei todo o cuidado mais rigoroso, como no início do tratamento. Fiquei internada algumas vezes e em uma dessas imternações, aparece uma médica pra fazer as visitas diárias, junto com seus estagiários. A médica explicou meu quadro e eles fizeram alguns questionamentos. Ela me olhou novamente e perguntou quanto tempo eu estava em tratamento. Respondi que fazia 1 ano e 6 meses. Ela me olhou como se não acreditasse. E disse que o prazo máximo pra que tem Aplasia Severa, como meu caso, é de 6 meses. Dessa vez fui eu que olhei pra ela sem entender, pois conhecíamos pessoas com muito mais tempo que eu, esperando por doador. E confirmei que tinha 1 ano e 6 meses.
          Lembro que em maio, apareceu um suposto doador. Mas não nos deram mais notícias e logo acreditamos que não era a hora ainda.
          Um dia, acordei bem cedinho e estava assistindo a missa pela TV. E no momento da comunhão, tocou o hino "Força e Vitória", que diz assim:

Todo joelho se dobrará
E toda língua proclamará
Que Jesus Cristo é o Senhor
Nada poderá me abalar
Nada poderá me derrotar
Pois minha força e vitória
É Jesus

Quero viver tua palavra
Quero ser cheio do teu espírito
Mas só te peço, livra-me do mal

Jesus!

          A parte que mais me chamou a atenção foi: "Nada poderá me abalar/Nada poderá me derrotar/Pois minha força e vitória/Tem um nome/É Jesus". Fiquei pensando, comecei a chorar e orei dizendo a Deus que não pediria mais paciência, não queria mais ser testada. Que daquele dia em diante só ia pedir a "força e a vitória". E assim dormi.
          Acho que orei com toda força que tinha, que não demorou muito e em julho apareceu outro suposto doador. E tudo foi acontecendo muito rápido. Começamos a preparar a documentação pra irmos para Jaú - SP, para o Hospital Amaral Carvalho. Tinha que ir pra consulta, fazer exames, tanto eu como meu doador.
          Viajamos dia 21 de agosto, fui para a consulta e em um momento o Dr. Vergílio me explicou tudo sobre o transplante, que agora sim eu ia sentir muito mais o efeito da medicação, que o cabelo ia cair, poderiam aparecer complicações e perguntou se eu queria mesmo fazer. Como assim? Eu poderia escolher? E foi aí que me explicou que alguns pacientes desistiam de fazer. Perguntei o que poderia acontecer se eu não fizesse. Não porque eu não queria fazer, mas só pra saber. Ele foi bem direto, não lembro bem as palavras que ele usou, mas eu entendi que se eu não fizesse eu morria ou que se eu fizesse eu poderia morrer também, mas pelo menos eu teria tentado e chegaria a dar certo. Meu quadro era complicado. Estava transfundindo quase todos os dias, o que não era nada bom. E respondi que ia fazer sim. Nem me passou pela cabeça não fazer. Tinha esperado tanto por esse dia. E estava tudo certo pra eu voltar em outubro, pois o transplante aconteceria no dia 27 de outubro.
         Estava me cuidando ao extremo para não adoecer. Tinha que estar preparada para mais uma luta. E chegou o dia de viajarmos novamente. Não estava com medo. Acho que mamãe tinha mais medo do que eu. Eu estava ansiosa. Sempre pesquisei muito na internet para entender como tudo isso funcionava, mas queria chegar logo e fazer, mesmo sabendo dos riscos que eu corria.
      Chegamos, fomos pra consulta, a tarde nos chamaram. Tinha que tomar medicação e saber do doador. Para nossa surpresa, descobrimos que o doador estava doente. Mas logo explicaram que era tratável. Deram-nos um prazo de 2 meses pra ele ficar bom. E perguntou se eu aguentava esperar mais um pouco e disse que sim. Até tinha outro doador, mas não era 100% compatível comigo. E queria muito insistir nesse doador que adoeceu, pois ele era praticamente "meu irmão gêmeo". Assim, voltamos pra casa. Mamãe ficou na dúvida se ele ia realmente se cuidar e doar. Porque ele poderia muito bem desistir, mas eu acreditava que ia dar certo. 
           Era uma quarta-feira (16/11/2011), ligaram do Hospital de SP e me disseram que o doador estava bem. Que já podia doar! Foi uma das melhores e maiores notícias que poderia receber. Chamei a mamãe e não conseguia nem falar. Só chorava. Minha irmã Luana veio e consegui contar. Choramos muito e agradecemos a Deus por isso. O detalhe era que teríamos que estar uma semana depois em Jaú.  Tínhamos que correr pra agendar tudo. Mas enfim, deu tudo certo. Graças a Deus.
          

Nenhum comentário:

Postar um comentário