terça-feira, 11 de agosto de 2015

Hora de Voltar para Casa

          Depois de tantas medicações, exames e consultas, chegou o dia em que o médico me perguntou: "Quer ir pra casa?" E fiquei pensando: "Sério?! Será que é verdade?!" E respondi: "Se o senhor achar que eu já posso ir, eu quero." Kkkkkk. Era claro que eu queria. Ele disse que eu já ia, mas passou um infinito de recomendações com as medicações que ainda teria que tomar, com a comida, água, principalmente... Enfim, tudo o que precisaria nessa fase pós-transplante.
          Voltamos para a pousada para nos arrumarmos e nos despedirmos da Marlene, acertar as coisas com a dona da pousada e tudo o mais.
          Mamãe estava cada vez mais cansada, mas não parava um instante. Parecia uma formiguinha. E eu ajudava no que podia, arrumar as roupas para caber nas malas, procurar um jeito melhor de arrumar tudo. Afinal, ainda estávamos levando presentes para a turminha.
        Acertamos tudo com o TFD de Manaus, sobre nossas passagens de volta e, também, com a taxista.
            Estava tudo pronto para voltarmos e descansar em nossa casa, junto com nossa família. A ansiedade e saudade estavam "falando" cada vez mais alto. Não víamos a hora de olhar no rostinho de cada um de casa e até do filhote, o Floquinho.
          Começamos a nossa despedida pelas meninas da casinha, Adriana e Érica, depois na pousada e quem encontrássemos pelo caminho. Uma felicidade sem fim. Pensávamos até que Marlene iria embora conosco, mas ela ainda não estava bem o suficiente para voltar para casa. Aliás, nem eu estava, mas Marlene estava tendo problemas com a medicação e teria que ficar mais um pouquinho. Ela, com certeza, foi mais um anjo para nós. Entrou em nossas vidas em um momento em que mamãe e eu estávamos muito frágeis e desanimadas. Ela chegou para alegrar nossos dias. Foi muito bom o tempo em que ficamos juntas.
         Saímos de Jaú na manhã do dia 5. A companhia aérea que o TFD comprava nossas passagens era a Gol e tinham muitas conexões: Bauru-Congonhas, Congonhas-Brasília e Brasília-Manaus. Era muito cansativo. Chegávamos em Manaus na madrugada. Até que a viagem foi tranquila, mesmo com meus enjoos e vômitos. Graças a Deus. A sensação de sobrevoar Manaus na madrugada, sabendo que logo estaríamos em casa, depois de 3 meses fora, não há palavras no mundo que defina o que sentimos. Não sei se eu agradecia, ria ou chorava. Ver papai, então... Nem sei como expressar. Pegamos nossas malas e fomos para casa. Ao chegar em casa, o primeiro a me receber foi o aquele sem vergonha do Filhote. kkkk. Quanta saudade! Parece que a qualquer momento ele iria começar a falar. Depois foram os meninos. E novamente a vontade de rir e chorar e sei lá mais o quê invadiam meu ser. Mamãe me acompanhava com as mesmas emoções.
          Comemos um pouco, estávamos cansadas, com sono, mas felizes. Finalmente estávamos em casa e com a família.


Cabelinho começando a crescer. Haha
          Beijinhos, pessoal! 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pós-Transplante

          Depois de ter passado quase 50 dias na internação do transplante, tinha chegado o dia da alta. Ansiedade era pouco. Tinha chegado a hora de dar oi para o sol, para as nuvens, para as árvores, dar oi para tudo.
          Mamãe começou a arrumar nossas poucas coisas (usávamos quase tudo do hospital). Preparam todas minhas medicações, orientações e tudo mais. E vieram nos informar que eu tinha pegado o tal de "G", como chamamos, ou DECH, que nada mais é do que a doença enxerto contra o hospedeiro. Que acaba sendo algo bom para quem transplanta medula, porque há uma grande chance de o transplantado não ter recaídas. Apesar de ter que receber medicação imediata para não haver complicações. Mas mamãe estava preocupada com o fato de não sabermos para onde iríamos. Até uma das enfermeiras nos dizer que eles arrumavam tudo antes da nossa saída, para irmos para um dos quartos de isolamento na Casinha. Até aí tudo bem. Depois de um tempo, quase na saída, virei para mamãe e perguntei: "Mãe, o papai vem buscar a gente?" Pronto! Foi o que bastou pra chorarmos. Perguntei isso a ela, porque era papai que ia nos buscar, na maioria das vezes, depois que eu saía de uma internação. A saudade estava demais. Bem... Terminamos de nos arrumar e começamos a nos despedir do pessoal do TMO. Eram enfermeiros e técnicos me desejando boa sorte, saúde, sucesso... Enfim! Um infinito de coisas boas. Mas lembro que a Gi Baldi não foi se despedir de mim. Depois acabei sabendo que ela não ia aguentar e ia acabar chorando, por isso não foi falar com a gente. Gi, está me devendo... kkkkk.
          E assim fomos embora. Nos ajudaram a descer com nossas coisas e ligamos para uma das meninas nos ajudar. Pois como eu usava a cadeira de rodas, mamãe não conseguiria me levar junto com nossas malas.
          Foi muito bom chegar do lado de fora e sentir o vento no rosto, o sol, respirar ar puro... É uma sensação indescritível. 
          Chegamos na Casinha e a ansiedade de sair do TMO foi tão grande, que acabamos esquecendo de alguns papéis. Mamãe teve que voltar e ajeitar tudo para poder ficarmos.
          Tivemos um resto de dia tranquilo, apesar da febre que me dava de vez em quando. Mas como já estava no antibiótico, ficávamos apenas observando para não aumentar muito.
          Como desci da internção com o "G", tivemos que voltar todos os dias ao hospital, no Ambulatório do TMO, para eu tomar a medicação. Tomaria por 14 dias, mas o "G" começou a desaparecer com 7 dias. Antes dos 14 dias, parei de tomar.
          Com o passar dos dias, foi ficando cada vez mais difícil de comer. Quando chegava a comida no portão da Casinha, já começava a sentir enjoo. Era impressionante. Não aguentava sentir o cheiro da comida. Foi uma das fases mais torturantes para mim. Em todo o tratamento, nunca tinha deixado de comer. E isso realmente me apavorava. Eu forçava para comer. Era preciso tapar os olhos, nariz e mamãe me dar comida na boca. Parece até brincadeira e coisa de menina mimada. Mas não! Era sério. Se eu olhasse a comida, não conseguia comer. Foi aí que começaram as descobertas para que eu pudesse comer: comer, vomitar e em seguida tentar comer de novo. Só assim conseguia manter algo no estômago.
          Como estava no meu limite, nada mais queria entrar e não podia cozinhar na Casinha, mamãe conversou com nossa família sobre o que achavam de irmos para uma pensão ou pousada. Claro que ia ter mais gasto, mas, no momento, o lado financeiro não era prioridade. Todos concordaram. E assim fomos falar com as Assistentes Sociais da Casinha sobre nossa saída e nos apoiaram. Assim, mamãe começou a procurar um lugar pra ficarmos. Aproveitava o momento que eu dormia para ir, porque dependia dela pra tudo.
          Depois de muito procurar, mamãe encontrou uma pousada que poderíamos ficar, pois nas demais seria impossível para cadeirantes. Algumas das meninas da Casinha (acompanhantes de pacientes) nos ajudaram com a mudança.
          E assim foram se passando os dias. Quando mamãe cozinhava, tinha que fechar a porta da cozinha, ligava o ventilador (o que não podia) para o ar circular e usava duas máscaras para não sentir cheiro nenhum. Comia, vomitava e comia. Mamãe chegou a ser dura uma vez comigo, dizendo para eu parar com isso, que era psicológico. Depois que fiz meu "ritual", ela me disse que tinha dito aquilo para ver se eu não ia vomitar. Não fez por maldade. Pena não ter adiantado. Isso estava nos deixando tristes e abatidas. Mais ainda a mamãe, porque tinha começado a sentir fortes dores na barriga. E ela não me deixava falar para os médicos e nem eu tinha reação para nada. Estava emagrecendo muito rápido, fraca... Enquanto ela continuava com dores e tendo que me carregar para todo lado.
   Até que conhecemos Marlene. Uma transplantada. E ela ficou na mesma pousada que a gente. Como ela estava bem, o marido teria que deixar ela um pouco para resolver algumas coisas na cidade deles e perguntou se podíamos fazer companhia para ela. A partir daí nos animamos mais.
          Foi um tempo muito bom que passamos depois disso. Meus exames estavam cada vez melhores, logo voltaríamos para casa, apesar de eu ainda estar ruim pra comer e mamãe com as dores. Até mamãe começou a emagrecer demais. Mas estava tudo dando certo. Pelo menos comigo.

          Até mais! Beijinho!

domingo, 3 de maio de 2015

Meninas Especiais


          Desde o início era muito difícil encontrar um acesso venoso em mim. Quando ainda estava em Boa Vista, percebi que seria muito difícil. Como tudo o que faço, uso muito mais as mãos do que qualquer outra parte do corpo, para me mover. Por causa da deficiência física, tenho que me apoiar em tudo. E com isso, era ruim manter o acesso bom, mesmo que eu não forçasse muito as mãos. E para piorar a situação, só dava para procurar acesso mais no braço esquerdo, que era o que eu mais esticava.
          Depois passei para o Hemoam e comecei a conhecer as enfermeiras. Todas sempre tiveram muito cuidado com os pacientes.
          Um dia desses, revirando e vendo postagens antigas no Facebook, encontrei uma postagem em que marcava algumas das pessoas especias que me puncionava.



          Sempre gostei de todas as meninas, mas essas faziam milagres. Kkkkk.
          Em uma vez que fiquei internada para fazer tratamento com os imunossupressores, perdi o acesso. Isso me tirava a paz, mais do que qualquer coisa. Já tinham tentado puncionar e nada. Até que perguntei se a Dil estava no setor de Transfusão. E para minha alegria, ela estava. Pedi que alguém fosse falar com ela. Não demorou muito e ela veio. E, graças a Deus, conseguiu.
          Cada uma tinha um jeitinho diferente. A Leo olhava, olhava até que achava alguma veia. E foi a primeira e única a puncionar meu pé. Nunca esqueço dessa dor. kkk. A Neida respirava fundo e ainda me preparava pra ser furada. A Dinair era muito artista, conseguia puncionar pegando a veia por baixo e com jelco nº 20. Geralmente, usava o nº 22. A Eneide vinha preparada com jelcos pra qualquer veia. E a Michelly veio depois, mas logo aprendeu como era melhor para mim. E conseguia logo acesso. Em uma das vezes, tive que ser puncionada com o nº 24, o que se usa em bebê. Isso tudo porque minhas veias não suportavam mais. As meninas do laboratório sabiam bem como coletar meu sangue. Até uns meses atrás, quando tenho que fazer exames, procurava pela Lu ou pela Elma. Assim que me viam, pediam pra eu esperar por elas. A Lu e a Elma sabiam dos meus reflexos de nervosismo. Toda vez que ia colher sangue minhas pernas tremiam demais. Era só tirar a agulha do braço e eu, aos poucos, voltava ao normal.
          Sofria quando iam puncionar e veia estourava. Na hora quase nem doía. O problema era depois. Inchava e ficava roxo. Era uma tortura.
          Mas graças a esses anjos em minha vida, tudo dava certo. Sinto saudades desse tempo. Não que eu queira voltar para o hospital, não mesmo! Mas sempre quando internava era legal. Não sofri muito com os efeitos dos remédios. Então, só internava mesmo pra tomar as medicações. Sinto saudades das meninas, das outras pacientes, de todos desse tempo.

domingo, 1 de março de 2015

Fases Divertidas do Transplante


        Apesar de ter passado por momentos bem difíceis, tive as fases divertidas. 
      Logo de início, foi ter recebido a pulseira de indentificação e eu dizia que minha fase de criança estava começando. Kkkk.
          Sempre fui tratada muito bem, tanto por médicos e enfermeiros, quanto pelas meninas da limpeza. Percebi que as enfermeiras não forçavam para nos tratar bem, elas gostam do que fazem. Tinham as mais calmas, as mais agitadas e as mais falantes. E, claro, as que mais me apeguei. A Nayara foi meu porto seguro ali, como enfermeira. Acompanhou-nos desde de o início. Mas cada uma dali, tem um pedacinho do meu coração. As Giseles (Baldi e Guimarães). A Gi Balde, me acompanhava todas as tardes. Ainda lembro de todas as conversas, das risadas sem fim, do companheirismo, nas ajudas nos dias frios. Kkkk. A Gi Guimarães era a companhia das noites. Mesmo que não estivesse comigo, ia me ver. Ela tinha um brilho diferente no olhar. Nunca soube identificar o que era. Adorava vê-la rir. Era contagiante ou eu que sou boba para rir. Sei lá. Kkkk. A Glaucia, era aquela enfermeira loucona. Se precisasse de agitação, podia chamá-la. Era barulho na certa! Kkkk. A Celina tinha aquela risada inconfundível. Sempre ouvia as gargalhadas vindo de fora do quarto. Kkkk. A Camila e Amanda, aparentemente mais tranquilas. Lembro do porte elegante que a Camila mostrava, acho que mesmo sem querer. Sempre atenciosa. A Amanda era a menina doce. Sempre observando. Tinha os meninos, Mateus e Oswaldo. Mateus era o meu preferido nas corridas, nos corredores do hospital. Sempre com emoção. Mamãe ficava doida atrás da gente. E foi o primeiro e único que fez eu sentir meu momento "Camila", de Laços de Família. Afinal, nunca tinha raspado a cabeça. Kkkk. E Oswaldo era o rapaz que mesmo sentado, ainda era maior do que eu e sempre me encontrava dormindo. No dia que entrou no quarto e me viu acordada, até estranhou. Kkkk. A Rose era a que sempre nos trazia paz e calma ao coração. Sempre com palavras divinas e reconfortantes a nos dar. A Patricia foi a me presentear com um antibiótico top. Até hoje lembro da cena em que ela descrevia o Zivox. Kkkkk. Da Bete, minha maior lembrança foi a de sempre me olhar e acenar pelo lado de fora do quarto, ou vir medir pressão, essas coisas. Lembro das conversas e tudo. A Tati era tão meiga, mas não passou muito tempo comigo. Falava sobre os preparativos de seu o casamento e o amor por cachorros. A Grazi, conquistamos pelos bilhetinhos trocados. Ela quase não ficava comigo, mas sempre deixava um bilhetinho em minha cama, alertando pra eu ter cuidado com outra enfermeira. O mais engraçado foi quando mandamos um pra ela e não descobriu de quem era. Kkkkk. Só soube porque a Sueli (segunda mãe no TMO) contou. 
          A Sueli, era uma das meninas da limpeza. Tornou-se minha segunda mãe por sempre me chamar de filhinha e bebê. Não abria mão de dizer: "Você sabe, né filhinha? Na hora do almoço pode chamar a mama. Depois pode chamar a sua de novo (olhando pra minha mãe)". Tinha a Silmara também. A Silmara era a moça dos barquinhos de madeira. Lembro mais das meninas da manhã, porque a noite sempre dormia muito.
          Com os médicos era uma bagunça. Como Dr. Vergílio fazia as visitas bem cedo, sempre nos pegava dormindo, de cara amassada... Com Dr. Marcos era mais tranquilo, mas sempre me queixava pra ele por causa de uma tosse que tinha aparecido e eu queria a alta pra respirar ar puro e não de ar condicionado (abusada eu). E com Dr. Mair era uma zorra, ficava me zoando por causa da minha trancinha (com meus últimos fios de cabelo. OBS: foto no post anterior). Sempre tinha algo engraçado pra me fazer rir. Mas quando falava sério, era sério mesmo. E foi ele que me deu a notícia mais maravilhosa que poderia ouvir na véspera de Natal: a medula tinha pegado (termo usado para quando a nova medula começa a funcionar)!
          Tinha os fisioterapeutas que me cansavam. Kkkk. Brincadeira! Sei que iam para que me ajudassem. Mas mesmo assim ficava cansada com os esforços. E a nutricionista, que tentava fazer com que eu comesse, me oferecendo infinitas coisas. Às vezes, acabava pedindo algumas coisas e deixava pra mamãe. Kkkk.
          Também esperava ansiosamente os finais de semana para receber as visitas do Remédicos do Riso. São pessoas abençoadas por Deus e tem o dom nos trazer alegria. Amei todas a visitas.
          Quando estava bem, ligava para todos que podia, família (sentia muita saudade), amigos e os irmãos de coração do Hemoam. Só soltava o telefone quando o cansaço batia, pois já tinha rido muito ao saber das notícias.
          Mas, com certeza, a parte mais legal foi ter recebido uma cartinha do meu doador antes de o transplante começar. Nem sei descrever o que senti. Senti-o tão perto e tão longe. Peço sempre a Deus que Ele abençõe essa pessoa eternamente. E espero que um dia possa conhecê-lo.
          Agora as fotinhas para compartilhar com vocês. Beijinhos!



Enfermeiros

Meninas da Limpeza

Remédicos do Riso

Fisioterapeutas e Nutricionista



 OBS: Perdão não ter citado todas as pessoas que conheci no TMO, mas minha cabeça não está funcionando muito bem. Kkkk. Perdão mesmo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Internação e o Transplante



          Apesar de as viagens terem sido cheias de aventuras e correrias, enfim estávamos em Jaú. Tudo preparado para o transplante.

          Chegamos no dia 21/11/11. Dia 23 era a consulta e ficou tudo certo para internar no outro dia. No dia da internação, nos avisam que íamos esperar mais um pouco. Que não tinha quarto disponível, pois uma criança teve que subir primeiro do que eu (quando digo "subir", é o termo que usamos quando vamos para o local do transplante). Nem preciso dizer que a tristeza de mamãe foi visível.

          Na volta para a pousada, mamãe chegou a pensar se o garotinho subiu porque tinha ficado no meu lugar, para receber minha medula. Respondi a ela que eu achava que não e disse que eu não tinha ficado triste, porque talvez não fosse a hora ainda. Ela ficou quieta e por fim, disse que eu tinha razão, que deveríamos esperar em Deus.

          Voltamos pra pousada e depois ligaram da Casa de Apoio (Casinha) pra irmos para lá. Quando chegamos em Jaú, não tinha vaga na Casinha  também. E fomos. No dia 25 de manhã, ligaram do Hospital para nos prepararmos para subir. Já tinha quarto disponível pra mim. Subimos, estava ansiosa.




          Comecei a medicação. Logo ia pra sala cirúrgica,  colocar o catéter. Eram vários comprimidos por alguns dias e logo ia começar a quimioterapia pesada. Tava indo muito bem. 
     Enfim, dia 9/12/2011. Tinha chegado o dia do transplante. Prepraram tudo. Como sempre, estava ansiosa demais. Tinha tanta fé que ia dar certo, que só disse mentalmente: "Que seja feita a vontade de Deus. Que eu sinta apenas o necessário para que meu corpo aceite a nova medula". E às 10:30 h começava meu renascimento. Começava a receber a medula. Foram três bolsas de sangue. Não senti nenhuma reação alérgica até o final da infusão da medula. Só senti depois de 2 h que havia terminado.
          No início da quimio, quase nem senti nada, meu cabelo ainda não tinha caído... Tudo normal. Até  que uns dias depois, mamãe começou a passar a mão em meu cabelo e percebeu que começava a cair. Naquele momento, lembrei da Amandinha (minha inspiração). Então, a parte divertida tinha chegado. Kkkkk. Começar a puxar os cabelos. Ainda bem que os médicos não me deixaram raspar antes. Tinham me explicado que se eu raspasse a cabeça antes da quimio, cairia apenas pedacinhos do cabelo e poderia cair no catéter e infeccionar. 


Assim que começou a cair meu cabelo, aproveitei pra tentar arrumar. Muitas vezes sem sucesso.
Era seco, duro, embaraçava num instante, mas foi divertido. Kkkkk.

          Depois comecei a ficar mais inchada, a garganta queimava e ia até o estômago (a famosa mucosite), intestino ainda mais preso, me faltava o apetite (coisa que nunca tinha acontecido), a pressão aumentava, tinha calafrios que me deixavam toda doída no outro dia, sentia muita dor nas pernas e fora meu catéter que não funcionava mais. Sabíamos que era tudo por causa da quimio.
      Por conta do catéter ter dado problema, não conseguiam mais coletar o sangue por ele, todos os dias tinha que levar furadas. Depois de um tempo, começou a doer muito meu ombro, no mesmo lugar do catéter. Todos achavam que era porque tentavam coletar o sangue e, talvez, forçasse. Mas um dia acordei com o braço doendo e muito vermelho. Rapidamente isolaram o catéter. Fiz um utrassom e eu estava com trombose. Logo iniciei a medicação para isso. Mas ainda não sabiam a causa de o catéter ter ficado assim. Uma das médicas ficava louca porque, por mais que ela aplicasse antibióticos, a dor não passava. Até que depois de analisarem meus exames e prontuário, descobriram que era uma bactéria que estava fazendo tudo isso. Poderia até dizer qual era a bactéria, mas não me lembro muito bem o nome. Enfim, comecei logo com a medicação. E graças a Deus ia começar a melhorar e ia parar de sentir dor. E o mais engraçado, eu só tinha febre de um lado do corpo. Agora o porquê, eu não sei. Kkkkk.
          Com os sintomas esperados, recebia medicação e tava indo bem. Mesmo sem apetite, empurrava algumas coisas. Tinha ânsia de vômito apenas, nada a mais. Fazia exames, na espera de a medula pegar.
        No dia 24/12/2011, Dr. Mair veio conversar comigo e me explicar algumas coisas. Começou me perguntando se eu sabia porque eu sentia tanta dor na perna, a ponto de ir pra Morfina. Só balancei a cabeça que não. E ele me deu a notícia mais maravilhosa que eu poderia receber naquele momento: a medula tava pegando. Por mais que eu soubesse que estivesse subindo, nada se comparava ao ouvir isso do médico. Nesse dia estava com leucócitos em 500 e plaquetas em 40 mil. Mais do que eu esperava. Nos abraçamos e disse que a notícia foi meu presente de natal. Depois me explicou que minha medula queria pegar com 4 dias. Por isso tinha entrado com mais uma quimio e vitamina, para dar uma parada, mas não deixasse ela "morrer". Esse era o motivo das dores nas pernas. Tudo foi esclarecido. E fiquei muito feliz. Abracei mamãe com o coração mais calmo e feliz.
             No dia 17 pós-transplante, a enfermeira passou e na saída, parou na porta e disse: "Ei, 1 + 3!" Olhei pra mamãe e não entendi nada. E ela disse de outra forma: "1.300". Eu muito pateta ainda não tinha entendido (kkkkk), só vi quando mamãe, muito esperta correu em direção à enfermeira, perguntando se era verdade. Aí que entendi que era meu leucócito que estava em 1.300. Nessa hora que parei, realmente, pra pensar no que estava acontecendo. Não sei bem o que senti, mas estava feliz, muito feliz. E agradeci a Deus por isso.
             Como os leucócitos tinham subido, o médico liberou pra raspar a cabeça. Na hora de raspar foi muito engraçado. O enfermeiro começou a cortar o cabelo pra facilitar, na hora de passar a máquina, olhei pra ele e disse: "Mateus, vai devagar. Nunca raspei a cabeça". Eu já tinha passado por um transplante e agora tava aflita com uma máquina de cortar cabelo?! Sim, estava! Kkkkkkk.
Tive meu momento Camila de "Laços de Família". Kkkk.
          Com tudo subindo, estava quase chegando a hora de ter alta do quarto e voltar pra Casinha. Mas a febre, por causa do catéter, persistia. Tive que ficar mais dias. Acabei tendo uma tosse, sentia muito frio, ainda mais depois que fiquei careca mesmo. O médico passava e eu dizia que precisava sair dali. Queria respirar ar puro. Ele só me dizia pra ter calma, mas estava ficando desanimada, tinha começado os vômitos, intestino tinha soltado até demais... Enfim, tava sentindo tudo. 
          Tomava várias medicações ainda. Graças a Deus consegui mudar, sem problema, todas as medicações do venoso para o oral. Só o que estava como venoso, era o antibiótico para a bendita bactéria. Até que um dia o médico perguntou se eu estava pronta pra sair. Claro que eu estava! Apesar das febres de vez em quando. Kkkkkk. Ele me disse que teria que voltar todos os dias ao hospital para tomar o antibiótico. Tudo bem! Sem problema! Mas aí me disse que eu poderia tomar em comprimido também. Mas detalhe: eles não tinham o comprimido e nem sabiam como era. Ou seja, tudo indicava que eu seria a primeira paciente a tomar o Zivox em comprimido no Amaral Carvalho? Creio que sim.
          E, finalmente, depois de 46 dias internada, estava de alta. Felicidade sem tamanho, tanto minha quanto da mamãe, que querendo ou não já estava bem abatida e cansada. E daquele dia em diante, era só ter muito cuidado, tomar as medicações, ir ao hospital e o mais importante: comer. Já não estava nada fácil comer. Era preciso colocar a máscara para tapar o nariz, fechar os olhos e mamãe empurra a comida na minha boca. Depois descobrimos que eu começava a comer, vomitava e aí sim conseguia comer. E continuamos assim.