sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Internação e o Transplante



          Apesar de as viagens terem sido cheias de aventuras e correrias, enfim estávamos em Jaú. Tudo preparado para o transplante.

          Chegamos no dia 21/11/11. Dia 23 era a consulta e ficou tudo certo para internar no outro dia. No dia da internação, nos avisam que íamos esperar mais um pouco. Que não tinha quarto disponível, pois uma criança teve que subir primeiro do que eu (quando digo "subir", é o termo que usamos quando vamos para o local do transplante). Nem preciso dizer que a tristeza de mamãe foi visível.

          Na volta para a pousada, mamãe chegou a pensar se o garotinho subiu porque tinha ficado no meu lugar, para receber minha medula. Respondi a ela que eu achava que não e disse que eu não tinha ficado triste, porque talvez não fosse a hora ainda. Ela ficou quieta e por fim, disse que eu tinha razão, que deveríamos esperar em Deus.

          Voltamos pra pousada e depois ligaram da Casa de Apoio (Casinha) pra irmos para lá. Quando chegamos em Jaú, não tinha vaga na Casinha  também. E fomos. No dia 25 de manhã, ligaram do Hospital para nos prepararmos para subir. Já tinha quarto disponível pra mim. Subimos, estava ansiosa.




          Comecei a medicação. Logo ia pra sala cirúrgica,  colocar o catéter. Eram vários comprimidos por alguns dias e logo ia começar a quimioterapia pesada. Tava indo muito bem. 
     Enfim, dia 9/12/2011. Tinha chegado o dia do transplante. Prepraram tudo. Como sempre, estava ansiosa demais. Tinha tanta fé que ia dar certo, que só disse mentalmente: "Que seja feita a vontade de Deus. Que eu sinta apenas o necessário para que meu corpo aceite a nova medula". E às 10:30 h começava meu renascimento. Começava a receber a medula. Foram três bolsas de sangue. Não senti nenhuma reação alérgica até o final da infusão da medula. Só senti depois de 2 h que havia terminado.
          No início da quimio, quase nem senti nada, meu cabelo ainda não tinha caído... Tudo normal. Até  que uns dias depois, mamãe começou a passar a mão em meu cabelo e percebeu que começava a cair. Naquele momento, lembrei da Amandinha (minha inspiração). Então, a parte divertida tinha chegado. Kkkkk. Começar a puxar os cabelos. Ainda bem que os médicos não me deixaram raspar antes. Tinham me explicado que se eu raspasse a cabeça antes da quimio, cairia apenas pedacinhos do cabelo e poderia cair no catéter e infeccionar. 


Assim que começou a cair meu cabelo, aproveitei pra tentar arrumar. Muitas vezes sem sucesso.
Era seco, duro, embaraçava num instante, mas foi divertido. Kkkkk.

          Depois comecei a ficar mais inchada, a garganta queimava e ia até o estômago (a famosa mucosite), intestino ainda mais preso, me faltava o apetite (coisa que nunca tinha acontecido), a pressão aumentava, tinha calafrios que me deixavam toda doída no outro dia, sentia muita dor nas pernas e fora meu catéter que não funcionava mais. Sabíamos que era tudo por causa da quimio.
      Por conta do catéter ter dado problema, não conseguiam mais coletar o sangue por ele, todos os dias tinha que levar furadas. Depois de um tempo, começou a doer muito meu ombro, no mesmo lugar do catéter. Todos achavam que era porque tentavam coletar o sangue e, talvez, forçasse. Mas um dia acordei com o braço doendo e muito vermelho. Rapidamente isolaram o catéter. Fiz um utrassom e eu estava com trombose. Logo iniciei a medicação para isso. Mas ainda não sabiam a causa de o catéter ter ficado assim. Uma das médicas ficava louca porque, por mais que ela aplicasse antibióticos, a dor não passava. Até que depois de analisarem meus exames e prontuário, descobriram que era uma bactéria que estava fazendo tudo isso. Poderia até dizer qual era a bactéria, mas não me lembro muito bem o nome. Enfim, comecei logo com a medicação. E graças a Deus ia começar a melhorar e ia parar de sentir dor. E o mais engraçado, eu só tinha febre de um lado do corpo. Agora o porquê, eu não sei. Kkkkk.
          Com os sintomas esperados, recebia medicação e tava indo bem. Mesmo sem apetite, empurrava algumas coisas. Tinha ânsia de vômito apenas, nada a mais. Fazia exames, na espera de a medula pegar.
        No dia 24/12/2011, Dr. Mair veio conversar comigo e me explicar algumas coisas. Começou me perguntando se eu sabia porque eu sentia tanta dor na perna, a ponto de ir pra Morfina. Só balancei a cabeça que não. E ele me deu a notícia mais maravilhosa que eu poderia receber naquele momento: a medula tava pegando. Por mais que eu soubesse que estivesse subindo, nada se comparava ao ouvir isso do médico. Nesse dia estava com leucócitos em 500 e plaquetas em 40 mil. Mais do que eu esperava. Nos abraçamos e disse que a notícia foi meu presente de natal. Depois me explicou que minha medula queria pegar com 4 dias. Por isso tinha entrado com mais uma quimio e vitamina, para dar uma parada, mas não deixasse ela "morrer". Esse era o motivo das dores nas pernas. Tudo foi esclarecido. E fiquei muito feliz. Abracei mamãe com o coração mais calmo e feliz.
             No dia 17 pós-transplante, a enfermeira passou e na saída, parou na porta e disse: "Ei, 1 + 3!" Olhei pra mamãe e não entendi nada. E ela disse de outra forma: "1.300". Eu muito pateta ainda não tinha entendido (kkkkk), só vi quando mamãe, muito esperta correu em direção à enfermeira, perguntando se era verdade. Aí que entendi que era meu leucócito que estava em 1.300. Nessa hora que parei, realmente, pra pensar no que estava acontecendo. Não sei bem o que senti, mas estava feliz, muito feliz. E agradeci a Deus por isso.
             Como os leucócitos tinham subido, o médico liberou pra raspar a cabeça. Na hora de raspar foi muito engraçado. O enfermeiro começou a cortar o cabelo pra facilitar, na hora de passar a máquina, olhei pra ele e disse: "Mateus, vai devagar. Nunca raspei a cabeça". Eu já tinha passado por um transplante e agora tava aflita com uma máquina de cortar cabelo?! Sim, estava! Kkkkkkk.
Tive meu momento Camila de "Laços de Família". Kkkk.
          Com tudo subindo, estava quase chegando a hora de ter alta do quarto e voltar pra Casinha. Mas a febre, por causa do catéter, persistia. Tive que ficar mais dias. Acabei tendo uma tosse, sentia muito frio, ainda mais depois que fiquei careca mesmo. O médico passava e eu dizia que precisava sair dali. Queria respirar ar puro. Ele só me dizia pra ter calma, mas estava ficando desanimada, tinha começado os vômitos, intestino tinha soltado até demais... Enfim, tava sentindo tudo. 
          Tomava várias medicações ainda. Graças a Deus consegui mudar, sem problema, todas as medicações do venoso para o oral. Só o que estava como venoso, era o antibiótico para a bendita bactéria. Até que um dia o médico perguntou se eu estava pronta pra sair. Claro que eu estava! Apesar das febres de vez em quando. Kkkkkk. Ele me disse que teria que voltar todos os dias ao hospital para tomar o antibiótico. Tudo bem! Sem problema! Mas aí me disse que eu poderia tomar em comprimido também. Mas detalhe: eles não tinham o comprimido e nem sabiam como era. Ou seja, tudo indicava que eu seria a primeira paciente a tomar o Zivox em comprimido no Amaral Carvalho? Creio que sim.
          E, finalmente, depois de 46 dias internada, estava de alta. Felicidade sem tamanho, tanto minha quanto da mamãe, que querendo ou não já estava bem abatida e cansada. E daquele dia em diante, era só ter muito cuidado, tomar as medicações, ir ao hospital e o mais importante: comer. Já não estava nada fácil comer. Era preciso colocar a máscara para tapar o nariz, fechar os olhos e mamãe empurra a comida na minha boca. Depois descobrimos que eu começava a comer, vomitava e aí sim conseguia comer. E continuamos assim.